sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Amor Não Escolhe Classes Sociais


Nos criamos, desde crianças, juntos na fazenda.
Meu pai? pião antigo, o dela? administrador.
Claro que quando a gente é criança não entende a diferança.
Que lindo ter sido dono, não? de tão grande inocência.
A fazenda inteira tinhamos percorrido.
Eu ganhava sempre afinal era um pouco mais crescido,
Ela me juntava flores, eu, lhe puxava o cabelo,
E assim passou o tempo quase sem perceber.
Tive que sair prá roça, já não era tão criança
Tava bom prá a lida.
Claro que todas as tardes passeavamos
E nos olhavamos muito sem achar o que conversar
Eu treinava o dia todo sobre o que iria falar.
Mas quando estava perto dela, não conseguia lembrar nada.
Não sei o que me acontecia quando ela estava a meu lado.
Minha garganta travava e aí ficava mudo.

Un dia ela me disse, que ia embora da fazenda,
Mandavam ela estudar, a um internato, creio, prá aprender
a ler, a somar, escrever, tinha dito Seu João.
Os livros são coisa boa e tem que saber o que dizem.
Me deu uma pena tão grande, quando ela dice que ia embora,
Que tirei força de dentro e lhe disse que a amava.
Ela não disse nada, ficou vermelhinha,
E eu que lhe roubo um beijo de sua linda boca.
Passou o tempo, alguns anos, e nunca me esqueci dela,
Pelas noites eu a via me olhando desde uma estrela.
Ela me amava, estava seguro disso,
Tinha me dito o gosto doce de seu beijo.
O homem quando é bem homem, pensei, tem que saber o que acontece.
Consegui o endereço dela com uma das empregadas da casa grande.
Francisco escreveu a carta, e ainda que não tive resposta,
Não me deixei morrer por isso, o que é bom sempre é mais dificil.

Tempos depois, a fazenda acordou uma loucura,
As cozinheiras da casona corriam de um lado para o outro.
Carnearam dois novilhos, as bebidas chegaram com vontade.
Pães, tortelas, comidas, tudo do melhor.
Se arrumaram as mesas, e o lugar para os cantores.
Tudo foi enfeitado com flores e rendas.
A mim, não me deu alegria, me deu tudo junto ao mesmo tempo.
A menina Rosa voltava, de novo para meu lado.
Depois, fiquei com medo, pensei até em não merece-la.
Mas mandei o medo ao Diabo, e me arrumei prá ve-la...
Aí vinha minha menina, mais linda que o mesmo céu,
Com sua mesma boca vermelha, aquela, onde coloquei meu beijo.
Usava um vestido que trincava os olhos,
Tomada do braço de Seu João que não cabia de tanto orgulho.
Passamos para as comidas, estouraram as champanhes,
O vinho corria, coisa que parecia rio, lindo.
Depois começou o baile, os cantores soltaram as vozes.
Não pude falar com minha menina,
Tava muito ocupada, falando com as visitas,
E outras pessoas importantes.

Dias depois, uma tarde, estando eu no curral,
Pensava em esquece-la quando escuto alguém chamar.
Roberto ! ! ! dizem, Beto ! ! !, e fico olhando prá ela.
Aí estava minha menina linda, de alegria chorando.
Nos abraçamos bem forte. - Você tinha me esquecido?
Jamais, digo e a beijo como nunca tinha beijado.
Continuamos nos encontrando, era minha até os ossos.
Eu também a amava, mesmo que morresse por isso.
Tenho duas mãos prá fazer sua felicidade, eu lhe dizia.
E ela se entristecia quando me ouvia falar.

Certa vez veio Seu João, a conversar, disse, de homem prá homem.
Falou coisa muito bonitas, com nome e sobrenome.
Me disse para deixa-la, que a rosa estava grande
E que as coisas de criança deveriam se esquecer.
Entende Roberto, ela não é desse lugar
Já é moça e um dia vai se casar
E não é com um peão de fazenda, sem desmerecer
A vida é triste Roberto, mas o que vai se fazer.
Começou bem macio, depois veio a pancada.
Entende bem Beto o que estou dizendo, senão, você se manda daqui.

Aí entrei no gole, o serviço, pensei, não importa.
Quarenta dias bebendo, brigando com meio mundo.
Tinha algum dinheiro, assim não me importei e gastei sem dó.
A vida é triste Roberto, essa não cola comigo.
Agora cá estou, com os bolsos lisos.
Sem serviço em nenhum lugar e a boca inchada.
E aí vem o problema, ainda a amo.
Os homens, lembrei minhas palavras, pensam como homens
E me estou desconhcendo.
A Rosa é minha ou de ninguém, os prejuízos ao diabo.
E se a Seu João me ter de genro é tão dificil.
Teremos que por um remedio agora a essa situação.
Eu não vejo, nesse caso, a diferença entre empregado e patrão.
Se me procuram na maldade, que seja, na maldade irão me encontrar.
E isso já está decidido pelo único caminho.
Quando a gente ama de verdade, Deus sabe que não há maldade.
Eu sou chucro de trabalho, não baixo a cabeça prá ninguém.
Assim que essa mesma noite, com fé e peito aberto.
Levo embora a Rosa, é assim que fazem os homens.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Bastardo


Venha meu filho, se aproxime.
O que foi que você disse para sua irmã ontem a noite?
Não entendi direito, mas uma palavra
Prá ser bem franco, não gostei nada.
De um tempo prá cá, o senhor está muito macho,
Sai por aí com os amigos de farra
E até me parece, meu filho, que você tem esquecido
Que aqui, nessa casa, sou eu que mando.
Assim, que o filho da sua irmã é bastardo 
Linda palavrinha, não? que progresso que tem feito, hein
Antes quando você era criança, me lembro, chegava chorando
Em busca da saia dessa que você a insultado.
Me parece meu filho que você esquece
Que sua mãe morreu quando você nascia
e que foi sua irmã a que não dormia 
pensando na sua mamadeira do próximo dia.
Aqui, nesta casa, não tem nenhum bastardo,
Todos são meus filhos, me entendeu?, e não aceito
Que um pirralho, como o senhor, me venha 
Insultar a rainha que tenho na fazenda.
Verdade que é solteira e que tem um filho,
Mas se agora é mãe foi porque ela quis,
Não como outras, que você tem conhecido
Que fazem remédio prá perder a cria.
Assim é, que não quero nunca mais ouvir
dizendo algo feio ou em contra do menino,
Deus é nosso pai, se falta carinho,
E ela é nossa mãe...bom...porque eu digo.
Assim que agora vá até a sua irmã,
E peça perdão e aqui não aconteceu nada,
Amanhã vamos com a tropa longe,
E faz falta um homem, porque eu estou velho.